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Bragança - Uma Terra Com Coração.
Ilustrações a tinta da china, com cunho e certificação de autenticidade, fichas históricas das ilustrações, acondicionadas num invólucro de luxo com tiragem limitada.
8 Ilustrações a tinta-da-china de Bragança
Vila-Cidadela (Bragança)
Vila (Cidadela) [ Texto de Luís Alexandre Rodrigues]
As imediações da Pousada de S. Bartolomeu ou, mais arriba, junto à Capela deste santo são dois bons pontos de observação da cidade antiga, especialmente do núcleo primitivo que se formou à sombra do castelo e da segurança oferecida pelas suas muralhas. Longo foi o processo, pois já nas Inquirições do século XIII se colhem referências a respeito dos trabalhos que a cintura defensiva implicava. Trabalhos que não tinham fim por ser grande a extensão do perímetro e porque as intempéries e as longas invernias também se encarregavam de contrariar os esforços que os homens tinham feito para erguerem os panos dos muros e as torres que, a espaços, faziam mais forte a praça de guerra. Trabalhos que, ao exigirem a contribuição dos moradores do concelho de Bragança, que então se estendia até à povoação da Trindade, implicaram, ainda que de forma incipiente, os primeiros passos na organização das finanças municipais. Note-se que as obrigações dos homens não se limitavam às funções braçais ou à cedência de animais e carros de trabalho porquanto era imperativo, mormente nos momentos de crise, manter uma aturada vigilância nocturna. Por vezes os documentos deixam ver como «velar e roldar» o castelo e acompanhar os presos eram lesivos dos habitantes visto que para satisfazerem estes encargos do concelho tinham que abandonar as suas casas, gados e lavouras. Ainda no século XV seria possível substituir algumas dessas dependências por um pagamento em dinheiro.
Após a Restauração de 1640 a engenharia militar procurou adaptar a fortaleza medieval às novas realidades da guerra. Foi assim que algumas das torres foram cortadas para permitirem fazer eirados e rampas de modo a poderem receber peças de artilharia. Em paralelo iniciou-se a construção do Forte de S. João de Deus. Este foi um período de grande transformação urbanística em que se reformulou racionalmente o traçado dos arruamentos na cidade. No espaço intra-muros, procurava-se deste modo potenciar a rapidez e comodidade de acesso aos adarves das muralhas a partir do castelo, propriamente dito, e da rua principal que une a Porta de Santo António e a Porta do Sol, as duas aberturas principais da muralha. Nesta época, a expansão urbanística distanciava a cidade da zona mais alta. Mesmo assim, a igreja de Santa Maria, matriz e sede de uma das duas paróquias existentes continuava a suscitar o concurso devocional dos fiéis. Como de resto se prova pelos retábulos dourados e policromados dos seus altares onde se expõem à veneração imagens de grande valia artística e ainda pelo enunciado da estética barroca no seu portal maior. Se o castelo simbolizava a importância concedida à defesa da soberania, a matriz de Santa Maria representava a tutela da religião sobre a sociedade. Já o edifício da Domus era a instituição que expressava a necessidade de regular quotidianamente a cidade dos homens. De facto era aí que se reuniam os da «governança» para tratarem dos assuntos que interessavam à urbe e ao concelho. Ali perto, a silhueta cinzenta do pelourinho, entretanto deslocado da posição inicial, atestava a autonomia municipal.
Todavia, em 1762, na sequência da guerra que nos foi declarada pelos Bourbons de Espanha e de França, o castelo e a muralha já eram dispositivos obsoletos e sem capacidade defensiva. Por isso foi fácil aos invasores dominarem temporariamente a região e entregarem-se a toda a sorte de abusos e destruições, nomeadamente à destruição de algumas partes da muralha, posteriormente refeita.
Após a Restauração de 1640 a engenharia militar procurou adaptar a fortaleza medieval às novas realidades da guerra. Foi assim que algumas das torres foram cortadas para permitirem fazer eirados e rampas de modo a poderem receber peças de artilharia. Em paralelo iniciou-se a construção do Forte de S. João de Deus. Este foi um período de grande transformação urbanística em que se reformulou racionalmente o traçado dos arruamentos na cidade. No espaço intra-muros, procurava-se deste modo potenciar a rapidez e comodidade de acesso aos adarves das muralhas a partir do castelo, propriamente dito, e da rua principal que une a Porta de Santo António e a Porta do Sol, as duas aberturas principais da muralha. Nesta época, a expansão urbanística distanciava a cidade da zona mais alta. Mesmo assim, a igreja de Santa Maria, matriz e sede de uma das duas paróquias existentes continuava a suscitar o concurso devocional dos fiéis. Como de resto se prova pelos retábulos dourados e policromados dos seus altares onde se expõem à veneração imagens de grande valia artística e ainda pelo enunciado da estética barroca no seu portal maior. Se o castelo simbolizava a importância concedida à defesa da soberania, a matriz de Santa Maria representava a tutela da religião sobre a sociedade. Já o edifício da Domus era a instituição que expressava a necessidade de regular quotidianamente a cidade dos homens. De facto era aí que se reuniam os da «governança» para tratarem dos assuntos que interessavam à urbe e ao concelho. Ali perto, a silhueta cinzenta do pelourinho, entretanto deslocado da posição inicial, atestava a autonomia municipal.
Todavia, em 1762, na sequência da guerra que nos foi declarada pelos Bourbons de Espanha e de França, o castelo e a muralha já eram dispositivos obsoletos e sem capacidade defensiva. Por isso foi fácil aos invasores dominarem temporariamente a região e entregarem-se a toda a sorte de abusos e destruições, nomeadamente à destruição de algumas partes da muralha, posteriormente refeita.
Castelo (Bragança)
Castelo (Bragança) [Texto de Luís Alexandre Rodrigues]
Os muros são robustos, integram adarves e são coroados por uma sucessão contínua de ameias. A espaços, destacam-se os volumes das torres com formas circulares e poligonais. Mas dos panos desta cintura muito se evidencia para o exterior uma torre couraça destinada a proteger uma funcionalidade indispensável, a Fonte do Rei.
Esta é a muralha delimitadora da Vila, dentro da qual, com independência do casario, se levantou a cidadela ou castelo. Pela sua altura e volume a Torre de Menagem, impõe-se ao primeiro olhar. É uma construção de planta quadrada que se desenvolve em três maciços andares que tiram partido dos trinta e três metros de altura e dos dezassete que mede cada face. No interior, uma escada serpentinada permite aceder à cisterna, que também foi cadeia e armazém, cavada na parte inferior e que recolhia as águas pluviais. Depois, até ao eirado da cobertura onde se abrem as guaritas de secção circular, apoiadas em avançamentos de consolas, que coroam as esquinas, a escadaria evolui apoiando os seus lanços nas paredes da torre. Deste modo a sua zona central fica sempre livre e susceptível de ser defendida a partir dos balcões integrados nos andares superiores.
Para se proteger exteriormente, o volume da Torre foi envolvido, excepto na parte Norte onde se aproveitou da muralha, por uma dupla cintura de muros em que se destaca a formação de cubelos semicirculares com eirados que permitem o comandamento dos adarves das muralhas. Mas no flanqueamento baixo, a espessura dos muros permitiu a abertura de nichos e, nos cubelos, o rasgamento de toneiras, algumas cruzetadas, para ser possível a utilização de armas de fogo e a observação em alcance – abertura vertical – e em direcção – abertura horizontal.
Uma ponte levadiça, batida por um defensivo balcão de besteira-machicoulis, articulava a porta da entrada alta da Torre de Menagem com a alcáçova. Esta construção era porticada e tinha torres nos ângulos, das quais ainda subsiste a lendária Torre da Princesa. Formavam um monumental conjunto residencial. De resto, tanto os amplos lumes das janelas como o investimento decorativo em estilo gótico mostram a afectação da Torre de Menagem a funções residenciais. Em 1727, o alcaide-mor Lázaro de Figueiredo Sarmento, ao afirmar que o «castello e cazas adjuntas foram sempre habitação dos alcaides mores», testemunhava a habitabilidade do complexo embora saibamos que a progressão da ruína era já notória.
A sua fábrica iniciou-se no reinado de D. João I e demoraria quatro décadas até ser concluída, no tempo de D. Afonso V, o soberano que, em 1464, concedeu o estatuto de cidade a Bragança. A sua morfologia e artifícios defensivos, próximos dos que se usaram na Torre de Belém, parecem derivar de práticas observadas em fortificações castelhanas onde abundam exemplos semelhantes.
Esta é a muralha delimitadora da Vila, dentro da qual, com independência do casario, se levantou a cidadela ou castelo. Pela sua altura e volume a Torre de Menagem, impõe-se ao primeiro olhar. É uma construção de planta quadrada que se desenvolve em três maciços andares que tiram partido dos trinta e três metros de altura e dos dezassete que mede cada face. No interior, uma escada serpentinada permite aceder à cisterna, que também foi cadeia e armazém, cavada na parte inferior e que recolhia as águas pluviais. Depois, até ao eirado da cobertura onde se abrem as guaritas de secção circular, apoiadas em avançamentos de consolas, que coroam as esquinas, a escadaria evolui apoiando os seus lanços nas paredes da torre. Deste modo a sua zona central fica sempre livre e susceptível de ser defendida a partir dos balcões integrados nos andares superiores.
Para se proteger exteriormente, o volume da Torre foi envolvido, excepto na parte Norte onde se aproveitou da muralha, por uma dupla cintura de muros em que se destaca a formação de cubelos semicirculares com eirados que permitem o comandamento dos adarves das muralhas. Mas no flanqueamento baixo, a espessura dos muros permitiu a abertura de nichos e, nos cubelos, o rasgamento de toneiras, algumas cruzetadas, para ser possível a utilização de armas de fogo e a observação em alcance – abertura vertical – e em direcção – abertura horizontal.
Uma ponte levadiça, batida por um defensivo balcão de besteira-machicoulis, articulava a porta da entrada alta da Torre de Menagem com a alcáçova. Esta construção era porticada e tinha torres nos ângulos, das quais ainda subsiste a lendária Torre da Princesa. Formavam um monumental conjunto residencial. De resto, tanto os amplos lumes das janelas como o investimento decorativo em estilo gótico mostram a afectação da Torre de Menagem a funções residenciais. Em 1727, o alcaide-mor Lázaro de Figueiredo Sarmento, ao afirmar que o «castello e cazas adjuntas foram sempre habitação dos alcaides mores», testemunhava a habitabilidade do complexo embora saibamos que a progressão da ruína era já notória.
A sua fábrica iniciou-se no reinado de D. João I e demoraria quatro décadas até ser concluída, no tempo de D. Afonso V, o soberano que, em 1464, concedeu o estatuto de cidade a Bragança. A sua morfologia e artifícios defensivos, próximos dos que se usaram na Torre de Belém, parecem derivar de práticas observadas em fortificações castelhanas onde abundam exemplos semelhantes.
Domus Municipalis/Igreja de Sta. Maria (Bragança)
Domus Municipalis/Igreja de Sta Maria [ Texto de Luís Alexandre Rodrigues]
A Domus Municipalis situa-se na Vila quase paredes meias com a igreja de Santa Maria. Nos tempos medievais, a existência de um edifício específico para os da «governança» curarem dos assuntos de interesse local e concelhio era um sinal abrangente de certas prerrogativas. Contando cerca de um século, a designação Domus Municipalis expressa apenas a influência que a mentalidade do romantismo exerceu sobre alguns eruditos bragançanos. Na verdade, a razão do lançamento desta vetusta construção procura responder à necessidade primeira de aproveitamento da água de uma nascente e, ao mesmo tempo, recolher as águas das chuvas já que a construção foi dotada com um sistema de algerozes que possibilitavam a condução das águas pluviais do telhado para à cisterna da base. Esta é uma obra de cantaria, em abóbada de canhão, reforçada com três arcos torais. Como nem todos os canais conservados recebem a água dos telhados existentes significa que outras construções anexas, entretanto desaparecidas, concorriam para o aproveitamento da água, função importantíssima em recintos fortificados. Seja como for, estes motivos levam-nos a compreender porque é os documentos antigos referenciam o edifício ora como Casa da Câmara ora como Cisterna.
Sobre a abóbada da cisterna é que assenta o chão da casa das sessões camarárias que actualmente se apresenta como um espaço amplo e dotado com aberturas interiores de acesso à cisterna. A planta tem a forma de um pentágono irregular sendo o seu perímetro percorrido por uma fiada contínua de assentos de cantaria que apenas se interrompem nos marcos dos estreitos vãos de duas entradas emparelhadas. Outra singularidade resulta da contínua modulação dos alçados pela teoria de janelas de arco de meio ponto que se apoiam em robustos pilares de faces lisas e com limitado desenvolvimento dos fustes. Na cachorrada da cornija, que corre tanto interior como exteriormente, apontaram-se alguns registos fantasistas, correntes em edifícios submetidos às regras da arte românica, os quais, a despeito da variedade figurativa, não ocultam as limitações criativas do lavrante. Por isso alguns arcaísmos são mais aparentes do que reais visto que o peso dos valores românicos presentes não nos faz esquecer que a cronologia da construção deste monumento deve andar próxima da da Torre de Menagem, facto que aponta uma imbricação nos tempos góticos.
Tempos houve em que as portas originais e algumas das suas fenestras foram emparedadas para que ganhasse forma a capela da Senhora do Carmo, edificada, na segunda metade do século XVI, por um alcaide-mor, na nave do lado da epístola da igreja matriz de Santa Maria. Este orago também se designa como Nossa Senhora do Sardão para se fazer jus à memória do sítio e à árvore em que a imagem aparecia nesses tempos lendários e nebulosos.
A matriz seria sujeita a obras no tempo em que foi bispo de Miranda do Douro o cronista–mor do reino, D. António Pinheiro (1565-1579) e, em 1580, com D. Jerónimo de Meneses, ampliou-se de tal modo que o antigo presbitério ficou incluído no corpo. Então edificou-se uma nova capela-mor em chão oferecido pelos fregueses. Mas o principal das obras apelavam à bolsa dos comendadores apesar de, nesta empreitada, se terem reaproveitado materiais provenientes do mosteiro de Castro de Avelãs que, então, se demolia. Pilares de ladrilhos com secção octogonal dividem o corpo em três naves e sustentam arcos semicirculares para apoio do madeiramento da cobertura exterior. Na transição do século XVII para a centúria seguinte alterou-se o frontispício do templo, moldando-se como uma estrutura retabular onde se inculca o gosto da arte barroca pela utilização de colunas espiraladas com simbólica decoração fitomórfica. Atmosfera que também tece digna expressão na pintura do tecto das naves. Ainda no plano do prospecto principal, com implantação angular, destaque-se o austero volume da torre sineira.
Sobre a abóbada da cisterna é que assenta o chão da casa das sessões camarárias que actualmente se apresenta como um espaço amplo e dotado com aberturas interiores de acesso à cisterna. A planta tem a forma de um pentágono irregular sendo o seu perímetro percorrido por uma fiada contínua de assentos de cantaria que apenas se interrompem nos marcos dos estreitos vãos de duas entradas emparelhadas. Outra singularidade resulta da contínua modulação dos alçados pela teoria de janelas de arco de meio ponto que se apoiam em robustos pilares de faces lisas e com limitado desenvolvimento dos fustes. Na cachorrada da cornija, que corre tanto interior como exteriormente, apontaram-se alguns registos fantasistas, correntes em edifícios submetidos às regras da arte românica, os quais, a despeito da variedade figurativa, não ocultam as limitações criativas do lavrante. Por isso alguns arcaísmos são mais aparentes do que reais visto que o peso dos valores românicos presentes não nos faz esquecer que a cronologia da construção deste monumento deve andar próxima da da Torre de Menagem, facto que aponta uma imbricação nos tempos góticos.
Tempos houve em que as portas originais e algumas das suas fenestras foram emparedadas para que ganhasse forma a capela da Senhora do Carmo, edificada, na segunda metade do século XVI, por um alcaide-mor, na nave do lado da epístola da igreja matriz de Santa Maria. Este orago também se designa como Nossa Senhora do Sardão para se fazer jus à memória do sítio e à árvore em que a imagem aparecia nesses tempos lendários e nebulosos.
A matriz seria sujeita a obras no tempo em que foi bispo de Miranda do Douro o cronista–mor do reino, D. António Pinheiro (1565-1579) e, em 1580, com D. Jerónimo de Meneses, ampliou-se de tal modo que o antigo presbitério ficou incluído no corpo. Então edificou-se uma nova capela-mor em chão oferecido pelos fregueses. Mas o principal das obras apelavam à bolsa dos comendadores apesar de, nesta empreitada, se terem reaproveitado materiais provenientes do mosteiro de Castro de Avelãs que, então, se demolia. Pilares de ladrilhos com secção octogonal dividem o corpo em três naves e sustentam arcos semicirculares para apoio do madeiramento da cobertura exterior. Na transição do século XVII para a centúria seguinte alterou-se o frontispício do templo, moldando-se como uma estrutura retabular onde se inculca o gosto da arte barroca pela utilização de colunas espiraladas com simbólica decoração fitomórfica. Atmosfera que também tece digna expressão na pintura do tecto das naves. Ainda no plano do prospecto principal, com implantação angular, destaque-se o austero volume da torre sineira.
Praça de São Vicente (Bragança)
Praça de São Vicente (Bragança) [ Texto de Luís Alexandre Rodrigues]
A evolução da cidade de Bragança pode ser determinada pela importância concedida à praça pública, espaço geralmente irregular, não muito espaçoso mas sempre aconchegado pelo casario que o delimita. Junto ao antigo postigo que levava à Ponte das Tinarias, encostando-se à frontaria da antiga cadeia civil, que não aparece representada, o desenho de Vítor Batista fixou a igreja de S. Vicente e o prospecto do Corpo da Guarda Principal, edifícios que pelas funções religiosa e militar são de grande significado para a urbe. No mesmo passo, o olhar do artista não ficou indiferente perante o memorial que homenageia os mortos da 1ª Grande Guerra nem deixou de reter o rectângulo do painel azulejar que celebra o grito patriótico de revolta, lançado na escadaria do templo por Sepúlveda e outros cidadãos, contra a ocupação e desmandos dos franceses.
A igreja de S. Vicente é antiga. Em 1569, na prelazia de D. António Pinheiro, o seu corpo seria demolido e refeito. Depois, em 1683, o desmoronamento da torre dos sinos sobre a nave implicou nova campanha de obras. Seria então que se estabeleceu a organização volumétrica do templo e se definiu a entrada principal no alçado voltado para a praça. Na reconstrução da capela maior, com uma ábside, aberturas limitadas a estreitas frestas e contrafortes exteriores, seguiram-se procedimentos extraídos do formulário românico e a utilização de ladrilhos no crescimento dos muros parece ter colhido referências na capela-mor do antigo cenóbio beneditino de Castro de Avelãs. Todavia, o encurvamento da cabeceira deve relacionar-se com o simbolismo associado ao Santo Cristo e com a decisão de se colocar a sua imagem no altar maior. Antes, os fiéis dirigiam-lhe as suas preces numa capela lateral, situada em frente da porta principal, que se construiu na segunda metade do século XVII. Esta capela incorpora uma cobertura artesoada, prolongando no tempo a validade das técnicas construtivas medievais. Para a entrada principal, a que se acede através de uma cenográfica escadaria, convocou-se um maior investimento arquitectónico em que se evidenciam pilastras de fuste apainelado com capitéis compósitos, uma arquitrave almofadada e um frontão triangular.
Defronte deste portal iniciar-se-ia, já com as luzes do século de setecentos a esmorecerem, o edifício do Corpo da Guarda Principal, destinado a substituir o antigo, que ficava na rua do Espírito Santo. A nova obra, projectada por José de Morais Antas, figura importante da engenharia militar nacional, ainda não estava concluída em 1806. Alguns dormitórios e a cadeia eram funcionalidades essenciais da sua organização interior. Porém, o seu prospecto principal condensa o jogo contrastante de cheios e vazios e enaltece o ritmo da sucessão de arcos sobre pilares. Uma nota de distinção seria introduzida pela incorporação de uma balaustrada e consequente valorização das linhas da frontaria, aspectos que também sublinhavam o papel deste edifício no contexto de uma sociedade fortemente hierarquizada. Por isso as molduras rectas e lisas dos vãos de entrada e de iluminação obedecem a linhas de sobriedade que sempre andaram associadas às construções militares.
Junto à escadaria do templo não passam despercebidos o chafariz setecentista e a derradeira construção dos Passos da Paixão no espaço público. Funcionalidades e equipamentos que expressam bem a importância desta velha praça tanto mais que as bicas da fonte proporcionavam o único ponto de abastecimento público de água dentro do antigo perímetro das muralhas. Por outro lado, o Passo ao permitir maior solenidade às procissões da semana santa, também possibilitava que o espaço da igreja se prolongasse pela rua pública. Patrono de uma das confrarias mais importantes da urbe, o Santo Cristo era todos os anos, no dia 3 de Maio, honrado com luzidas festas que decorriam nesta praça. Por isso aqui teve a sua génese a famosa Feira das Cantarinhas, com realização anual e grande tradição.
A igreja de S. Vicente é antiga. Em 1569, na prelazia de D. António Pinheiro, o seu corpo seria demolido e refeito. Depois, em 1683, o desmoronamento da torre dos sinos sobre a nave implicou nova campanha de obras. Seria então que se estabeleceu a organização volumétrica do templo e se definiu a entrada principal no alçado voltado para a praça. Na reconstrução da capela maior, com uma ábside, aberturas limitadas a estreitas frestas e contrafortes exteriores, seguiram-se procedimentos extraídos do formulário românico e a utilização de ladrilhos no crescimento dos muros parece ter colhido referências na capela-mor do antigo cenóbio beneditino de Castro de Avelãs. Todavia, o encurvamento da cabeceira deve relacionar-se com o simbolismo associado ao Santo Cristo e com a decisão de se colocar a sua imagem no altar maior. Antes, os fiéis dirigiam-lhe as suas preces numa capela lateral, situada em frente da porta principal, que se construiu na segunda metade do século XVII. Esta capela incorpora uma cobertura artesoada, prolongando no tempo a validade das técnicas construtivas medievais. Para a entrada principal, a que se acede através de uma cenográfica escadaria, convocou-se um maior investimento arquitectónico em que se evidenciam pilastras de fuste apainelado com capitéis compósitos, uma arquitrave almofadada e um frontão triangular.
Defronte deste portal iniciar-se-ia, já com as luzes do século de setecentos a esmorecerem, o edifício do Corpo da Guarda Principal, destinado a substituir o antigo, que ficava na rua do Espírito Santo. A nova obra, projectada por José de Morais Antas, figura importante da engenharia militar nacional, ainda não estava concluída em 1806. Alguns dormitórios e a cadeia eram funcionalidades essenciais da sua organização interior. Porém, o seu prospecto principal condensa o jogo contrastante de cheios e vazios e enaltece o ritmo da sucessão de arcos sobre pilares. Uma nota de distinção seria introduzida pela incorporação de uma balaustrada e consequente valorização das linhas da frontaria, aspectos que também sublinhavam o papel deste edifício no contexto de uma sociedade fortemente hierarquizada. Por isso as molduras rectas e lisas dos vãos de entrada e de iluminação obedecem a linhas de sobriedade que sempre andaram associadas às construções militares.
Junto à escadaria do templo não passam despercebidos o chafariz setecentista e a derradeira construção dos Passos da Paixão no espaço público. Funcionalidades e equipamentos que expressam bem a importância desta velha praça tanto mais que as bicas da fonte proporcionavam o único ponto de abastecimento público de água dentro do antigo perímetro das muralhas. Por outro lado, o Passo ao permitir maior solenidade às procissões da semana santa, também possibilitava que o espaço da igreja se prolongasse pela rua pública. Patrono de uma das confrarias mais importantes da urbe, o Santo Cristo era todos os anos, no dia 3 de Maio, honrado com luzidas festas que decorriam nesta praça. Por isso aqui teve a sua génese a famosa Feira das Cantarinhas, com realização anual e grande tradição.
Cruzeiro (Bragança)
Cruzeiro (Bragança) [ Texto de Luís Alexandre Rodrigues]
Tenebrosa era a antiga utilização da cruz por ser instrumento de tortura e de execução. Por isso, onde se erguiam, quase sempre a vida e a morte se enfrentavam. Todavia, com Cristo o madeiro da crucificação converter-se-ia num símbolo essencial de religião por significar que o sacrifício tinha em vista a redenção dos homens. De objecto portátil, adereço pessoal e elemento do cerimonial, a cruz também ganhou monumentalidade quando os seus braços passaram a marcar os adros das igrejas, as encruzilhadas dos caminhos, os cemitérios, as cabeceiras dos templos depois de profanados e as ruas e praças das aldeias e cidades. Sinal de fé e piedade, inscreveu-se na toponímia dos aglomerados, relacionou os sítios com as pessoas, humanizou a paisagem urbana.
Em Bragança, o terreiro situado defronte da igreja dos regulares da Companhia de Jesus, rocio onde entroncavam as antigas ruas de Fora de Portas e dos Oleiros, ainda se referenciava no século XVII como a Praça da Cruz de Pedra porque espaço vestibular para quem demandava a urbe era pontuado com um pétreo cruzeiro. Devido à continuada presença dos Jesuítas e à importância local do pátio dos estudos que dirigiam, lentamente, acabaria por se fixar a designação de Praça do Colégio, a qual, na segunda metade do século XVIII, em consequência da mudança da sede episcopal de Miranda do Douro para Bragança e da posterior afectação da igreja que foi dos jesuítas a funções catedralescas, se foi transmutando para Praça da Sé, topónimo que hoje se conserva.
A cronologia e as razões da erecção do cruzeiro não são conhecidas. Todavia, sabemos que, em 1688, estava «arruinado com perigo». Matéria bastante para a Câmara de Bragança, com a concordância dos habitantes da cidade, promover a arrematação de um novo monumento que o desenho ilustra. Em escadaria com três degraus, sobre pedestal almofadado, onde se insculpiram as iniciais IHS e a data de 1689, apruma-se o fuste espiralado onde se enleiam os sarmentos relevados de vides e uvas, símbolos eucarísticos que antecipavam um programa decorativo que teria larga fortuna nas máquinas retabulares de muitos templos barrocos. Porém, a profusa ornamentação do terço inferior continuava a conjugar algumas das variantes decorativas que eram caras à gramática maneirista.
No século XIX, a vontade de alguns políticos, sobrepondo-se ao sentimento popular, determinou que esta importante peça do protobarroco nacional fosse desmontada e removida da Praça da Sé. Votada ao abandono e esquecida durante muito tempo no cemitério público, só o inconformismo de um grupo de cidadãos bragançanos fez com que o cruzeiro fosse reposto no centro da Praça, voltando, a partir de 1931, a ser um silencioso espectador dos fastos da cidade.
Em Bragança, o terreiro situado defronte da igreja dos regulares da Companhia de Jesus, rocio onde entroncavam as antigas ruas de Fora de Portas e dos Oleiros, ainda se referenciava no século XVII como a Praça da Cruz de Pedra porque espaço vestibular para quem demandava a urbe era pontuado com um pétreo cruzeiro. Devido à continuada presença dos Jesuítas e à importância local do pátio dos estudos que dirigiam, lentamente, acabaria por se fixar a designação de Praça do Colégio, a qual, na segunda metade do século XVIII, em consequência da mudança da sede episcopal de Miranda do Douro para Bragança e da posterior afectação da igreja que foi dos jesuítas a funções catedralescas, se foi transmutando para Praça da Sé, topónimo que hoje se conserva.
A cronologia e as razões da erecção do cruzeiro não são conhecidas. Todavia, sabemos que, em 1688, estava «arruinado com perigo». Matéria bastante para a Câmara de Bragança, com a concordância dos habitantes da cidade, promover a arrematação de um novo monumento que o desenho ilustra. Em escadaria com três degraus, sobre pedestal almofadado, onde se insculpiram as iniciais IHS e a data de 1689, apruma-se o fuste espiralado onde se enleiam os sarmentos relevados de vides e uvas, símbolos eucarísticos que antecipavam um programa decorativo que teria larga fortuna nas máquinas retabulares de muitos templos barrocos. Porém, a profusa ornamentação do terço inferior continuava a conjugar algumas das variantes decorativas que eram caras à gramática maneirista.
No século XIX, a vontade de alguns políticos, sobrepondo-se ao sentimento popular, determinou que esta importante peça do protobarroco nacional fosse desmontada e removida da Praça da Sé. Votada ao abandono e esquecida durante muito tempo no cemitério público, só o inconformismo de um grupo de cidadãos bragançanos fez com que o cruzeiro fosse reposto no centro da Praça, voltando, a partir de 1931, a ser um silencioso espectador dos fastos da cidade.
Sé (Bragança)
Sé (Bragança) [ Texto de Luís Alexandre Rodrigues]
Ainda na primeira metade do século XVI, a fidalguia bragançana manifestou vontade de criar uma instituição onde a sua prole feminina pudesse seguir a vida religiosa. Com a anuência do Senado da Câmara e do titular da Sereníssima Casa de Bragança iniciaram-se os trabalhos do projectado convento de freiras que seria dedicado a Santa Clara. Por ser irmã de S. Francisco de Assis, significa que a clausura se processaria na observância da regra franciscana. Uma vez concluídas as obras, passado que foi um período de hesitação, a igreja e mais dependências seriam entregue aos regulares da Companhia de Jesus que vieram estabelecer-se em Bragança. Os mesmos padres encarregar-se-iam do funcionamento do Colégio do Santíssimo Nome de Jesus, instituição muito acalentada não só pela edilidade de Bragança mas ainda pelo Duque de Bragança e pelos primeiros bispos, de proveniência espanhola, da diocese recém fundada.
A única nave da igreja inscreve-se num rectângulo e configura-se como um espaço apropriado para a pregação já que a presença de dois altares laterais, com acentuado desenvolvimento parietal, não interferia na unidade espacial interna. Apesar de algumas diferenças formais, as coberturas estreladas da capela-mor e do corpo, os contrafortes exteriores e as janelas abertas na empena do lado do evangelho definem a construção primordial onde o mestre pedreiro Pero de la Faia, possivelmente um dos muitos do antigo meirinhado de Trasmiera (Espanha) que demandaram estas partes, parece ter desenvolvido acção dirigente.
Além das aberturas da construção primitiva, um janelão maneirista, construído em 1685 para iluminação do coro alto, na primeira metade do século XX deslocado para os pés do templo, e uma abertura com frontão enrolado, datada de 1749, animavam o alçado que os jesuítas acrescentaram. Seria neste alçado lateral que se rasgou o pórtico maior em virtude da afectação inicial a igreja de freiras franciscana. Foi armado com um arco de meio ponto e enquadramento com pilastras. No ático, cornucópias estilizadas organizam um nicho que abriga a Virgem do Leite, imagem pétrea que em tempos se apresentava recamada com folha de ouro. Se a presença desta concavidade deve ser entendida no âmbito de uma reacção anti-clássica que ia percorrendo o país, o programa subjacente, de influência renascentista, detecta-se no par de medalhões relevados das cantoneiras e nas cabeças de anjos que surgem por entre os enrolamentos dos capitéis das pilastras.
Anote-se também a inserção de uma torre na zona posterior à capela-mor, que seria acrescentada em altura na vigência do Estado Novo, e uma elegante galilé de influência florentina com arcos e colunas que repetem os formulários e modulações praticados no retiro da zona claustral.
Com a expulsão dos padres da Companhia em 1758, e a posterior explosão no paiol do castelo de Miranda do Douro, o Bispo D. Frei Aleixo de Miranda Henriques encorajou a transferência da catedral desta cidade para Bragança. Com esta decisão, a antiga igreja dos regulares serviu como sede episcopal até aos nossos dias. Mas as insuficiências para o culto aconselharam ao lançamento da obra de uma nova catedral, riscada pelo arquitecto italiano António Stopanni Romano. Seria grandiosa, como Mafra. Mas diversas circunstâncias impediram que fosse além dos alicerces.
A única nave da igreja inscreve-se num rectângulo e configura-se como um espaço apropriado para a pregação já que a presença de dois altares laterais, com acentuado desenvolvimento parietal, não interferia na unidade espacial interna. Apesar de algumas diferenças formais, as coberturas estreladas da capela-mor e do corpo, os contrafortes exteriores e as janelas abertas na empena do lado do evangelho definem a construção primordial onde o mestre pedreiro Pero de la Faia, possivelmente um dos muitos do antigo meirinhado de Trasmiera (Espanha) que demandaram estas partes, parece ter desenvolvido acção dirigente.
Além das aberturas da construção primitiva, um janelão maneirista, construído em 1685 para iluminação do coro alto, na primeira metade do século XX deslocado para os pés do templo, e uma abertura com frontão enrolado, datada de 1749, animavam o alçado que os jesuítas acrescentaram. Seria neste alçado lateral que se rasgou o pórtico maior em virtude da afectação inicial a igreja de freiras franciscana. Foi armado com um arco de meio ponto e enquadramento com pilastras. No ático, cornucópias estilizadas organizam um nicho que abriga a Virgem do Leite, imagem pétrea que em tempos se apresentava recamada com folha de ouro. Se a presença desta concavidade deve ser entendida no âmbito de uma reacção anti-clássica que ia percorrendo o país, o programa subjacente, de influência renascentista, detecta-se no par de medalhões relevados das cantoneiras e nas cabeças de anjos que surgem por entre os enrolamentos dos capitéis das pilastras.
Anote-se também a inserção de uma torre na zona posterior à capela-mor, que seria acrescentada em altura na vigência do Estado Novo, e uma elegante galilé de influência florentina com arcos e colunas que repetem os formulários e modulações praticados no retiro da zona claustral.
Com a expulsão dos padres da Companhia em 1758, e a posterior explosão no paiol do castelo de Miranda do Douro, o Bispo D. Frei Aleixo de Miranda Henriques encorajou a transferência da catedral desta cidade para Bragança. Com esta decisão, a antiga igreja dos regulares serviu como sede episcopal até aos nossos dias. Mas as insuficiências para o culto aconselharam ao lançamento da obra de uma nova catedral, riscada pelo arquitecto italiano António Stopanni Romano. Seria grandiosa, como Mafra. Mas diversas circunstâncias impediram que fosse além dos alicerces.
Igreja de Castro de Avelãs (Bragança)
Igreja de Castro de Avelãs (Bragança) [ Texto de Luís Alexandre Rodrigues]
Localiza-se na povoação do mesmo nome, a cerca de uma légua do centro de Bragança. Tanto na povoação como nas suas proximidades têm sido encontradas sepulturas, lápides funerárias, marcos miliários reaproveitados, mós manuais, moedas, aras, fundamentos das habitações primitivas. Achados arqueológicos que testemunham a antiguidade do povoado e, sobretudo, as consequências civilizacionais do mundo romano. Uma das aras, entretanto destruída para ser usada num jazigo particular, teria uma importância acrescida por ser consagrada ao deus Aerno, protector dos Zoelas e do ancestral núcleo castrejo. Apesar de ser diversamente interpretada pelos autores, a sua inscrição numa pedra de um metro de altura por meio de largura, fixava o tributo de «A tribo dos Zoelas ao deus Aerno em cumprimento de um voto» (DEO / AERNO / ORDO / ZOELAR / EXVOTO).
A fama da povoação decorre essencialmente de aí se ter edificado um mosteiro beneditino, o qual viria a senhorear largas parcelas do território bragançano. Todavia, não se conhecem indicações que, com segurança, nos informem da fundação do cenóbio primitivo. Por isso, fazer-lhe recuar a existência até aos tempos dos suevos e visigodos, apesar do monacato cristão muito se ter expandido nessas eras, pode significar uma extraordinária concessão ao domínio do imaginário. Acresce que a regra de S. Bento só depois do Concílio de Coyança, realizado em 1050, se generalizou no território portucalense. Em todo o caso, algumas notícias extraídas dos livros de linhagens validam a existência desta casa de religião nestes obscuros tempos medievais. Alguns relatos referem até o rapto de uma princesa da Arménia pelo façanhudo Mendo Alão, monge de Castro de Avelãs e membro da poderosa prosápia dos Braganções. Para a infelicidade da piedosa dama que confiou na protecção do mosteiro durante o repouso na sua peregrinação a Santiago de Compostela,
Uma doação de D. Afonso Henriques aos frades, amore Dei, et pro remissione omnium peccatorum meorum, datada de 1145, atesta a importância que já se tributava à instituição religiosa. Mais tarde, em 1387, no contexto da crise geral do século XIV e das guerras com os castelhanos, as instalações do mosteiro dariam guarida à comitiva do Duque de Lencastre e de sua mulher, pais de D. Filipa de Lencastre. Embora de passagem, aí esteve também D. João I de Portugal antes de partir para o arraial da de Babe, aldeia onde as duas forças se reuniram para entrarem em terras de Espanha ao som de guerra.
Na parte final do século XVI, os edifícios do mosteiro, seriam desmantelados. Diga-se que o mosteiro tinha sido extinto e todo o seu património transferido para a Mesa Capitular da diocese de Miranda do Douro de fundação recente. Desse tempo pouco mais resta à vista do que a cabeceira tripla, abobadada, e alguns vestígios de alicerces que inculcam ter sido a igreja organizada em três naves. A abundância de argila determinou a utilização em larga escala de ladrilhos na sua construção. Das técnicas e dos processos construtivos, filiando-se no legado peninsular da cultura muçulmana, conhecem-se muitos exemplos nas vizinhas terras de Leão e de Castela. A cabeceira sofreu diversas reconstruções mas a fotografia antiga de um absíodolo parcialmente arruinado deixa ver a incorporação de arcos quebrados, sinal da realização de campanhas de obras que parecem negar o fácies românico expresso na sucessão das arcadas duplas que se apresentam em sobreposição e no cornijamento em dente de serra para como forma de se acentuar o efeito do claro-escuro. Destacando-se do templo, definem-se os volumes de uma torre gótica que serve de campanário e a residência paroquial, edifício arruinado mas que incorpora testemunhos que interessam à compreensão do antigo conjunto monástico.
A fama da povoação decorre essencialmente de aí se ter edificado um mosteiro beneditino, o qual viria a senhorear largas parcelas do território bragançano. Todavia, não se conhecem indicações que, com segurança, nos informem da fundação do cenóbio primitivo. Por isso, fazer-lhe recuar a existência até aos tempos dos suevos e visigodos, apesar do monacato cristão muito se ter expandido nessas eras, pode significar uma extraordinária concessão ao domínio do imaginário. Acresce que a regra de S. Bento só depois do Concílio de Coyança, realizado em 1050, se generalizou no território portucalense. Em todo o caso, algumas notícias extraídas dos livros de linhagens validam a existência desta casa de religião nestes obscuros tempos medievais. Alguns relatos referem até o rapto de uma princesa da Arménia pelo façanhudo Mendo Alão, monge de Castro de Avelãs e membro da poderosa prosápia dos Braganções. Para a infelicidade da piedosa dama que confiou na protecção do mosteiro durante o repouso na sua peregrinação a Santiago de Compostela,
Uma doação de D. Afonso Henriques aos frades, amore Dei, et pro remissione omnium peccatorum meorum, datada de 1145, atesta a importância que já se tributava à instituição religiosa. Mais tarde, em 1387, no contexto da crise geral do século XIV e das guerras com os castelhanos, as instalações do mosteiro dariam guarida à comitiva do Duque de Lencastre e de sua mulher, pais de D. Filipa de Lencastre. Embora de passagem, aí esteve também D. João I de Portugal antes de partir para o arraial da de Babe, aldeia onde as duas forças se reuniram para entrarem em terras de Espanha ao som de guerra.
Na parte final do século XVI, os edifícios do mosteiro, seriam desmantelados. Diga-se que o mosteiro tinha sido extinto e todo o seu património transferido para a Mesa Capitular da diocese de Miranda do Douro de fundação recente. Desse tempo pouco mais resta à vista do que a cabeceira tripla, abobadada, e alguns vestígios de alicerces que inculcam ter sido a igreja organizada em três naves. A abundância de argila determinou a utilização em larga escala de ladrilhos na sua construção. Das técnicas e dos processos construtivos, filiando-se no legado peninsular da cultura muçulmana, conhecem-se muitos exemplos nas vizinhas terras de Leão e de Castela. A cabeceira sofreu diversas reconstruções mas a fotografia antiga de um absíodolo parcialmente arruinado deixa ver a incorporação de arcos quebrados, sinal da realização de campanhas de obras que parecem negar o fácies românico expresso na sucessão das arcadas duplas que se apresentam em sobreposição e no cornijamento em dente de serra para como forma de se acentuar o efeito do claro-escuro. Destacando-se do templo, definem-se os volumes de uma torre gótica que serve de campanário e a residência paroquial, edifício arruinado mas que incorpora testemunhos que interessam à compreensão do antigo conjunto monástico.
Santuário do Santo Cristo de Outeiro (Bragança); Igreja de Castro de Avelãs (Bragança)
Santuário do Santo Cristo de Outeiro (Bragança) [ Texto de Luís Alexandre Rodrigues]
Algumas gotas – de água, segundo uns, ou de sangue, como querem outros – que escorriam pelo corpo de um Cristo martirizado no madeiro que se expunha na mal estimada capela da invocação da Santa Cruz, em Outeiro, seriam explicadas como um sinal da sua divina natureza. Ao prodígio seguir-se-ia a criação de uma importante confraria e os seus membros mais proeminentes não se descuidaram no trabalho de promoverem a construção de um monumental santuário com capacidade para acolher a multidão de fiéis que logo se mostraram sensíveis à manifestação sobrenatural ali ocorrida na Primavera de 1698. O governador do castelo, Lázaro de Figueiredo Sarmento, seria um dos que mais animou a empreitada. Pouco depois, quando se gastavam os últimos dias de Maio desta era, o Cabido da Sé de Miranda do Douro reconhecia a irmandade em cujos estatutos se estipulava que qualquer pessoa, independentemente do estado, sexo e condição social, podia ser admitida desde que pagasse, anualmente, de esmola para o Santo Cristo uma quarta de trigo. Logo alguns milhares de fiéis se assentaram como confrades com a particularidade de as listas registarem os nomes de pessoas naturais da Galiza e da região de Castela-Leão.
Não são conhecidas notícias que informem sobre as solenidades do lançamento da primeira pedra. Também não se conhece o autor do projecto da edificação. Em todo o caso, a existência de arcaturas gravadas, em tamanho real, no lajeamento do corpo da igreja permite a suposição de que o autor do risco não acompanhou completamente a evolução dos trabalhos. Interiormente, a planta obedece ao desenho de uma cruz latina e tanto na única nave como nos braços do transepto e no cruzeiro os práticos deixaram bons apontamentos no que respeita ao trabalho da cantaria. Destaque-se a meia-laranja da cobertura do cruzeiro e o abobadamento do corpo e dos alpendres exteriores com recurso a um artesoado formado por elementos que parecem influenciados por certos procedimentos técnicos que eram correntes em edificações do tempo de D. Manuel I. A austeridade do resultado e a deliberada robustez dos elementos em presença fazem-nos acreditar que a inspiração dirigente do projecto se deve assacar a algum dos engenheiros militares que, com frequência relativa, vistoriavam os castelos das praças situadas na linha da raia. A cabeceira estava funcional em 1713 e em 1716 a clausura da nave estava totalmente definida. No entanto faltava ainda dar andamento ao coro, que implicava o desenvolvimento da frontaria com duas torres, e aos alpendres laterais. António Rodrigues e Francisco Garcia, canteiros galegos, foram mestres com assinalável actividade nestas obras. Na fachada principal, organizada como um retábulo, conceder-se-ia proeminência ao arco geminado da entrada solene enquanto a abertura circular, destinada a iluminar o coro, seria dotada com moldura de esmerados ornatos. Para a sedimentação do programa artístico de índole maneirista do corpo central muito concorreu o partido dos elementos de suporte, ainda que desprovidos da função tectónica, em conjunção com os nichos emparelhados de frontões quebrados sobre os quais corre uma palaciana balaustrada que relaciona este prospecto com as duas torres sineiras com cunhais almofadados e pontiagudos telhados que sublinham o significado do movimento ascensional para os fiéis católicos.
Não são conhecidas notícias que informem sobre as solenidades do lançamento da primeira pedra. Também não se conhece o autor do projecto da edificação. Em todo o caso, a existência de arcaturas gravadas, em tamanho real, no lajeamento do corpo da igreja permite a suposição de que o autor do risco não acompanhou completamente a evolução dos trabalhos. Interiormente, a planta obedece ao desenho de uma cruz latina e tanto na única nave como nos braços do transepto e no cruzeiro os práticos deixaram bons apontamentos no que respeita ao trabalho da cantaria. Destaque-se a meia-laranja da cobertura do cruzeiro e o abobadamento do corpo e dos alpendres exteriores com recurso a um artesoado formado por elementos que parecem influenciados por certos procedimentos técnicos que eram correntes em edificações do tempo de D. Manuel I. A austeridade do resultado e a deliberada robustez dos elementos em presença fazem-nos acreditar que a inspiração dirigente do projecto se deve assacar a algum dos engenheiros militares que, com frequência relativa, vistoriavam os castelos das praças situadas na linha da raia. A cabeceira estava funcional em 1713 e em 1716 a clausura da nave estava totalmente definida. No entanto faltava ainda dar andamento ao coro, que implicava o desenvolvimento da frontaria com duas torres, e aos alpendres laterais. António Rodrigues e Francisco Garcia, canteiros galegos, foram mestres com assinalável actividade nestas obras. Na fachada principal, organizada como um retábulo, conceder-se-ia proeminência ao arco geminado da entrada solene enquanto a abertura circular, destinada a iluminar o coro, seria dotada com moldura de esmerados ornatos. Para a sedimentação do programa artístico de índole maneirista do corpo central muito concorreu o partido dos elementos de suporte, ainda que desprovidos da função tectónica, em conjunção com os nichos emparelhados de frontões quebrados sobre os quais corre uma palaciana balaustrada que relaciona este prospecto com as duas torres sineiras com cunhais almofadados e pontiagudos telhados que sublinham o significado do movimento ascensional para os fiéis católicos.